”Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.” (Antoine de Saint-Exupéry)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014


Não pretendo te contar sobre minhas lutas mentais. Você terá nas mãos minha simplicidade e minha leveza, que podem não ser totalmente verdadeiras, mas foram criadas com muito carinho pra não assustar pessoas como você. Não vou ficar falando sobre a complexidade dos meus pensamentos, minha dualidade ou minhas dúvidas sobre qualquer sentimento do mundo. Vou te deixar com a melhor parte, porque eu sei que você merece. Guardo pra mim as crises de identidade e a vontade de sumir. Não vou dissertar sobre minhas fragilidades e minhas inseguranças. Talvez eu te diga algumas vezes sobre minha tristeza, mas só pra ganhar um pouquinho mais de carinho. Ofereço meu bom humor e minha paciência e você deve saber que esta não é uma oferta muito comum. 

Se você tivesse chegado antes, eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Você tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão. Você não precisa saber que eu choro porque me sinto pequena num mundo gigante. Nem que eu faço coisas estúpidas quando estou carente. 

Você nunca vai saber da minha mania de me expor em palavras, que eu escrevo o tempo todo, em qualquer lugar. Muito menos que eu estou escrevendo sobre você neste exato momento. E não pense que é falta de consideração eu dividir tanto de mim com tanta gente e excluir você dessa minha segunda vida, porque há duas maneiras de saber o que eu não digo sobre mim: lendo nas entrelinhas dos meus textos e olhando nos meus olhos. E a segunda opção ninguém mais tem. 

Verônica Heiss

Se você ama, diga que ama. Não tem essa de não precisar dizer porque o outro já sabe. Se sabe, maravilha… mas esse é um conhecimento que nunca está concluído. Pede inúmeras e ternas atualizações. Economizar amor é avareza. Coisa de quem funciona na frequência da escassez. De quem tem medo de gastar sentimento e lhe faltar depois. É terrível viver contando moedinhas de afeto. Há amor suficiente no universo. Pra todo mundo. Não perdemos quando damos: ganhamos junto. Quanto mais a gente faz o amor circular, mas amor a gente tem. Não é lorota. Basta sentir nas interações do dia-a-dia, esse nosso caderno de exercícios.

Se você ama, diga que ama. A gente pode sentir que é amado, mas sempre gosta de ouvir e ouvir e ouvir. É música de qualidade. Tão melodiosa, que muitas vezes, mesmo sem conseguir externar, sentimos uma vontade imensa de pedir: diz de novo? Dizer não dói, não arranca pedaço, requer poucas palavras e pode caber no intervalo entre uma inspiração e outra, sem brecha para se encontrar esconderijo na justificativa de falta de tempo. Sim, dizer, em alguns casos, pode exigir entendimentos prévios com o orgulho, com a bobagem do só-digo-se-o-outro-disser, com a coragem de dissolver uma camada e outra dessas defesas que a gente cria ao longo do caminho e quando percebe mais parecem uma muralha. Essas coisas que, no fim das contas, só servem para nos afastar da vida. De nós mesmos. Do amor.

Se você ama, diga que ama. Diga o seu conforto por saber que aquela vida e a sua vida se olham amorosamente e têm um lugar de encontro. Diga a sua gratidão. O seu contentamento. A festa que acontece em você toda vez que lembra que o outro existe. E se for muito difícil dizer com palavras, diga de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá…

Ana Jácomo

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sapatilha

Quando seus pés calçavam as sapatilhas, não sabia mais do seu nome ou de sua plateia. De olhos fechados e ela era a própria dança - e não mais a dançarina - quem se entregava diante da música e também do silêncio dos seus convidados. Quando lua morena despontava no céu, de doce cabana saia chorosa, com os pés descalços em busca do mar. Era jeito dela de andar em paz com sua solidão. Quando o sol lhe convidava a despertar, era de sapato e coração apertados, que saia de casa para conseguir espaço na própria vida e uma folga das suas dívidas. E de volta pra casa com seu salto fino nas mãos, via então o seu tamanho e seu lugar diante do mundo. Ainda que tantas versões de si pudessem escolher as cores, os preços, os modelos e os tamanhos dos seus sapatos, eram as ocasiões - e também os acasos - quem definiam seus passos. Era o seu coração quem de verdade caminhava, até que resolveu parar, cansado da caminhada.


A Ilha de um Home só

segunda-feira, 16 de maio de 2011

De uma forma ou de outra eu soube desde o início que seria como pular de um avião sem um paraquedas para me salvar, agora eu caio a toda velocidade, cada vez mais fundo em meus abismos. Pude pressentir a dor antes de lhe tocar, eu sabia que nunca mais voltaria a ser como era. Quando lhe toquei surgiu em mim o que chamo de certeza: era isso e nada mais.
Fui precipitada, impulsiva. Tive medo, mas corri o risco e acertei em cheio: ficará. É o pouco que sei, ficará.
Senti o teu cheiro impregnado na minha pele, o teu beijo ainda presente na minha boca. Quis dormir nos teus braços sob a vigilância do teu olhar, mas fugi à meia noite, como aquela princesa que tanto já se ouviu falar. De mim, ninguém falará, sou tão anônima quanto posso suportar.
Ao desvencilhar-me dos teus braços eu soube: acabou. Acabou o que mal teve tempo de começar. Acabou e não voltará. Talvez você me ligue numa noite vazia, quando lembrar-se da minha pele contra a sua. Talvez sinta minha falta, talvez não sinta nada. “Como era mesmo o nome dela?” Porque as coisas tendem a ser assim, aprendi, e me dói não poder lhe tocar outra vez. Dói mais do que posso explicar ou até mesmo entender.
Nossos olhares trocados me perfuraram pela manhã, quando a noite acabou, quando a água levou do meu corpo o teu cheiro, quando entre lágrimas eu compreendi e sorri: é só o que tinha que ser, e o que tiver que ser, será.
A lembrança destroçou minha alma, a ausência queimou minha pele, onde você me tocou. Ficaram as marcas, as feridas que demorarão a se curar. Ficou a tua voz ecoando na minha cabeça.
Na noite fria, sob a chuva, vi teus passos levando-lhe para longe de mim, e doeu não ter um olhar de despedida à distância. Talvez não seja a hora de dizer adeus, as coisas acontecem como devem ser. Mas a esperança logo me abandonou, me deixando sozinha, com os olhos manchados e o coração doendo, minha boca pedindo mais, meu corpo pedindo mais, e você indo embora, rapidamente, como se tudo tivesse sido apenas um sonho que poderia ser minha eterna realidade.


@viajantejeans

terça-feira, 19 de abril de 2011

Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma.Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também. Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes,mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito,vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade.Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir.
Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro. Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa,que vale a pena.

Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar.


Caio F.
Estaria, entretanto, mentindo se não dissesse que, aqui dentro, ainda me corrói uma pequena curiosidade. Pois não é todo dia que uma pessoa não vai e não liga, é? As pessoas guardam esses grandes vacilos para momentos especiais, não guardam? Então, eis a minha única curiosidade: você às vezes pensa nisso, como eu penso? Com um suave aperto no coração? Ou será que você foi apenas um idiota que esqueceu de ir?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sei que é tarde e as horas se estendem largas, mas é necessário que conversemos. Leoni canta os meus sentimentos em 24 de março, e embora a data não seja a mesma e que há muito março tenha se despedido de nós as evidências e semelhanças me são excruciantes e, por que não dizer, letais. Eu me esvazio da dor que por vezes me causaste, é incrível como os teus caprichos não são suficientes para acabar com o que nasceu cá dentro e transborda continuamente. Eu sei que não devo entrar em desespero, porque você me é de todas as formas possíveis e inimagináveis, mas esse é o ápice -, aquela velha história de: "ou vai ou racha, ou é 8 ou 80". Perdoe-me o palavreado chulo, querida. Mas é que como a noite avança sem compasso, os meus modos também se foram há muito. É agonia, repreenda-me se necessário. Não é uma reconciliação que pretendo propor e sim um acordo amigável. Por favor, não bata o pé assim e sua respiração profunda me causas açoite, entenda. Não ria de mim, pois te conheço tão profundamente que posso descrever cada movimento seu do outro lado da linha, estas tuas mãos que insistem em desenhar mil coisas na agenda ao lado do telefone, e o teu bico que se formará assim que eu calar minha boca.




Não se assuste. Respire. Tenho tentando em demasia afugentar lembranças, mas no fim é sempre seu nome que vem à mente. E hoje, o telefone me foi saída, depois de tanto ensaiar em frente espelho. Eu tinha que ligar e dizer, por fim, você é a razão da minha vida. E isso não é uma declaração de amor, constatei. É apenas algo que eu deveria ter aceitado há algum tempo, mas por alguma razão me esquivei. Eu queria mesmo ser o eterno em sua vida, aquilo que você mais adora, um objeto porque não. Mas, eu entendi o nosso lance e ele sempre foi um tanto unilateral e tantas vezes você quis me mostar isso. Perdoa. Sei que estou dando voltas e você deseja que esta conversa acabe logo, é claro. A proposta que tenho para nós é: "me deixa ser de outro alguém?" Soou mais como pedido, né? Mas é que não poderia ser feito de outra forma. É que eu sinto tão enraizado em você, que seria injusto não te pedir permissão. Vai ser bom para nós dois. Você não vai precisar se preocupar onde pisa comigo, poderá falar dos teus romances abertamente e eu farei o mesmo. Vai ser estranho no começo, mas eu precisava dizer.






Por favor não respire dessa forma, os teus soluços me magoam. É, existe outra pessoa. Mas ela ainda está nascendo timidamente em mim, talvez essa semente não cresça e morra pelo caminho. Só que eu precisava me dar, tentar e buscar um jeito de crescer em alguém também. Ela me viu colecionando lágrimas no bar e me ofereceu um drinque. Aceitei e desde então somos. Assim como foi no começo, somos descoberta um para o outro. Clarisse não chore. Você nunca me amou mesmo, não como eu gostaria. Senti que a nossa química era bem mais de pele, física do que outra coisa e eu desejo que alguém olhe para dentro de mim, a minha alma, e me ame pelo que eu sou. Vou dar uma chance a ela, mesmo que no fim da noite o teu nome volte aos meus lábios.




É isso.


(...) e do outro lado da linha como havia descrito, ela rabiscava na agenda " Grande amor, meu Matheus". Mas agora o telefone mudo não lhe dizia mais nada. Lembrou-se de Caio F. que dizia: "Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para entendê-las."


E acabou ali entre duas avenidas, dois telefones mudos.
 
 
retirado daqui