”Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.” (Antoine de Saint-Exupéry)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sei que é tarde e as horas se estendem largas, mas é necessário que conversemos. Leoni canta os meus sentimentos em 24 de março, e embora a data não seja a mesma e que há muito março tenha se despedido de nós as evidências e semelhanças me são excruciantes e, por que não dizer, letais. Eu me esvazio da dor que por vezes me causaste, é incrível como os teus caprichos não são suficientes para acabar com o que nasceu cá dentro e transborda continuamente. Eu sei que não devo entrar em desespero, porque você me é de todas as formas possíveis e inimagináveis, mas esse é o ápice -, aquela velha história de: "ou vai ou racha, ou é 8 ou 80". Perdoe-me o palavreado chulo, querida. Mas é que como a noite avança sem compasso, os meus modos também se foram há muito. É agonia, repreenda-me se necessário. Não é uma reconciliação que pretendo propor e sim um acordo amigável. Por favor, não bata o pé assim e sua respiração profunda me causas açoite, entenda. Não ria de mim, pois te conheço tão profundamente que posso descrever cada movimento seu do outro lado da linha, estas tuas mãos que insistem em desenhar mil coisas na agenda ao lado do telefone, e o teu bico que se formará assim que eu calar minha boca.




Não se assuste. Respire. Tenho tentando em demasia afugentar lembranças, mas no fim é sempre seu nome que vem à mente. E hoje, o telefone me foi saída, depois de tanto ensaiar em frente espelho. Eu tinha que ligar e dizer, por fim, você é a razão da minha vida. E isso não é uma declaração de amor, constatei. É apenas algo que eu deveria ter aceitado há algum tempo, mas por alguma razão me esquivei. Eu queria mesmo ser o eterno em sua vida, aquilo que você mais adora, um objeto porque não. Mas, eu entendi o nosso lance e ele sempre foi um tanto unilateral e tantas vezes você quis me mostar isso. Perdoa. Sei que estou dando voltas e você deseja que esta conversa acabe logo, é claro. A proposta que tenho para nós é: "me deixa ser de outro alguém?" Soou mais como pedido, né? Mas é que não poderia ser feito de outra forma. É que eu sinto tão enraizado em você, que seria injusto não te pedir permissão. Vai ser bom para nós dois. Você não vai precisar se preocupar onde pisa comigo, poderá falar dos teus romances abertamente e eu farei o mesmo. Vai ser estranho no começo, mas eu precisava dizer.






Por favor não respire dessa forma, os teus soluços me magoam. É, existe outra pessoa. Mas ela ainda está nascendo timidamente em mim, talvez essa semente não cresça e morra pelo caminho. Só que eu precisava me dar, tentar e buscar um jeito de crescer em alguém também. Ela me viu colecionando lágrimas no bar e me ofereceu um drinque. Aceitei e desde então somos. Assim como foi no começo, somos descoberta um para o outro. Clarisse não chore. Você nunca me amou mesmo, não como eu gostaria. Senti que a nossa química era bem mais de pele, física do que outra coisa e eu desejo que alguém olhe para dentro de mim, a minha alma, e me ame pelo que eu sou. Vou dar uma chance a ela, mesmo que no fim da noite o teu nome volte aos meus lábios.




É isso.


(...) e do outro lado da linha como havia descrito, ela rabiscava na agenda " Grande amor, meu Matheus". Mas agora o telefone mudo não lhe dizia mais nada. Lembrou-se de Caio F. que dizia: "Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para entendê-las."


E acabou ali entre duas avenidas, dois telefones mudos.
 
 
retirado daqui

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