”Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.” (Antoine de Saint-Exupéry)

terça-feira, 29 de junho de 2010

Se eu te falo sobre te esquecer

"Isto não é um adeus. É apenas o caminho pelo qual o amor continua quando as palavras não aquecem o bastante para afastar o frio"
(Pat Monahan/Ryan Tedder)


Em meio a tantas dúvidas encontrei a certeza de que nada era exato ao te amar. Entre tanta gente covarde eu tive a coragem de me entregar. Rodeado de amores medíocres eu ousei desejar o sublime. Então que ninguém me peça para desistir ou voltar se o que há na volta ainda é o que me fez partir. Se por acaso não há mais a gente, me diga, qual motivo eu tenho para não querer daqui embora ir? E veja o tanto que eu pedi. Eu desejei, eu implorei, eu me ofereci por inteiro a qualquer um por algum pedaço a menos de saudade. Mas ninguém nunca trouxe o seu abraço, ninguém nunca trouxe o seu cheiro, nenhum nunca teve o seu jeito, todos erraram onde você acertou e acertaram onde você errou, ninguém nunca trouxe o seu medo e também nunca pensou em levar de mim esse desejo. Só quem sente sente o que sente. Só quem sabe sabe o que sabe. Só a gente sente e sabe o que a gente viveu. Não me importa se o nome do que havia era amor, se era amizade ou se ainda estávamos no vazio complexo que habita entre os dois. Talvez se todos também pudessem sentir e saber haveria mais vida na vida, mais dia nos dias e mais corda nos corações desses tantos que já se esqueceram que precisam bater, que amar é viver, e que a recusa ao amor faz nascer aquelas estrelas que à noite todos esquecem de notar. Apesar de te amar eu gostaria que não houvesse amor, pelo menos que não houvesse o meu amor por você. Eu estava ao seu lado, você estava ao meu e isso bastava aos dois. Havia alegria, havia o gostar da companhia e de um estranho modo a gente se pertencia sem se comprometer, nos unia o compreender. Acho que era amizade. Mas teve que chegar ele, o amor, e bagunçar os desejos trazendo a necessidade do corresponder, para me fazer precisar de mais para sentir alegria, me fazer querer mais da tua companhia e o jeito que a gente era não era o mais o jeito que nos bastava. Se eu não te amasse seria ainda tudo igual, sabia? Eu gostaria de não gostar para que ainda fosse tudo igual, e o amor, o amor seria um detalhe que se esconderia entre nós. O amor seria o silêncio que me calava ao fim do abraço desejoso por você não me soltar. O amor seria o embrulho de cada presente que eu te dava desejoso por você notar. O amor seria o olhar que desviava ao te ver com outros desejoso por você ser feliz com cada um deles, mas reservar algum espaço na tua vida, um espaço qualquer no qual eu pudesse continuar. O amor estaria sempre onde o nunca o impedisse de se concretizar. É então que eu vejo que o amor sempre esteve lá e eu posso pensar que não era para ter sido, que pode dar um bom livro o amor do qual a vida nos livrou, que eu nunca te amei e parti, que você nunca foi um amigo de verdade e não se importou. Há várias possibilidades que eu posso me dizer agora para confortar a alma. E há tantos motivos aqui que eu não saberia por onde começar. Então, se eu te falo sobre te esquecer eu confesso, eu não te esqueci, eu desisti. E desistir é apenas um jeito de seguir em frente e lembrar do que não se pode ter. Eu voltarei, não sei de onde nem para onde, mas eu vou te procurar, meu amor, quando eu puder te chamar de "meu amigo", sem sentir que isso é pouco, sem que por isso haja dor. Até lá eu quero que você guarde todo dia um sorriso para mim e mesmo que eu não volte entregue a cada dia esse sorriso para o mundo e saiba que a vida pode sim ser feliz. E se eu não voltar, você já sabe o motivo, mas também saiba que eu vou recomeçar e encontrar algum jeito de a vida ser feliz sem a gente aqui comigo. Não que eu não seja feliz, mas eu vou achar um jeito de amar alguém de novo. Até lá - se assim for - meu amigo. Até nunca - se assim for - meu amor.

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